Senador Pompeu!

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Sou tarauacaense nato e tenho orgulho disso. Nasci no bairro da Praia, oficialmente denominado de Bairro Senador Pompeu e também tenho orgulho disso. Foi lá onde passei minha infância e princípio da adolescência (até os 16 anos) brincando com meu irmão e com os demais garotos da minha geração. Foi na simplicidade da rua Manoel Lourenço que eu cresci e brinquei. Foi ali na Manoel Lourenço, no bairro Senador Pompeu, que comecei a rascunhar o meu projeto de vida.
Embora eu tenha nascido e vivido até os 16 anos no bairro Senador Pompeu, eu nunca me indaguei e ninguém nunca me disse quem foi o Senador Pompeu. Que ele foi um senador isso é obvio. Mas você meu conterrâneo sabe mais sobre o Senador Pompeu? Onde nasceu? Onde viveu? Qual sua origem? Qual a sua contribuição para o nosso país?
Essa semana, lendo o blog do meu amigo Accioly, o título de uma postagem me chamou a atenção. Diz a matéria: “Senador Pompeu vence primeiro jogo da final”, postada no dia 04 de abril. Ler esse nome me fez recordar momentos da minha vida de quando morei no bairro Senador Pompeu.
Então, passei a fazer algumas pesquisas na internet para colher informações sobre o nascimento, a vida e o legado do ilustre senador e, por isso, convido você a conhecer um pouco sobre a biografia daquele que foi um arauto da educação e da política brasileira.
Tomaz Pompeu de Sousa Brasil nasceu em Santa Quitéria-Ce em 06 de junho de 1818 e morreu no dia de 2 setembro de 1877, aos 59 anos de idade, em Fortaleza-Ce, vítima de ataque cardíaco. Pertencente a uma família ilustre do norte do Ceará, a Pinto de Mesquita, Senador Pompeu, como ficou conhecido, foi padre, advogado escritor e Senador pela província do Ceará, nomeado por D. Pedro II, em 09 de janeiro de 1864.
Hoje é nome de avenida na cidade do Rio de Janeiro, de cidade no Estado do Ceará, de rua em Fortaleza, de praça em Santa Quitéria-Ce e de bairro em Tarauacá-Ac. Apesar de tudo isto, muitos desconhecem a história de Senador Pompeu, no ano em que completa 194 anos de seu nascimento.
O Senador Pompeu descende do fidalgo português João Pinto de Mesquita e de Tereza de Oliveira, casal tronco da família Pinto de Mesquita, que através de onze filhos, semeou uma prole constituída de sertanejos austeros e nobres que deram origem às famílias Pinto de Mesquita, Paula Pessoa, Pompeu de Sousa Brasil, Pompeu de Sousa Magalhães, Catunda e Magalhães de Mesquita.
Era filho do capitão de milícia potiguar Tomaz d’Aquino de Souza e sua mulher Geracina Isabel Pompeu de Sousa, esta, neta de João Pinto de Mesquita. No tocante à sua origem, é necessário retornarmos ao século XVII. No fim da década de 60, do século XVII, chegou, na região de Sobral-Ce, Polinardo Caetano César de Ataíde, homem grande de influência, que chegou a ser Juiz Ordinário, Juiz de Órfãos e Presidente da Câmara de Sobral, o qual, dizendo-se solteiro, casou-se, mediante juramento, com Isabel Pinto Mesquita, nona filha do Sargento Mor João Pinto de Mesquita. O casamento realizou-se na Matriz de São Gonçalo, na Serra dos Cocos, em 1772, e, deste matrimônio, nasceram quatro filhos: Otaviano, nascido em 05 de maio de 1773, Polinardo, nascido em 26 de agosto de 1775, Geracina, nascida em 05 de novembro de 1777, e Antônio, nascido em 23 de novembro de 1779.
Tudo corria as mil maravilhas, até o dia em que, por ocasião de umas missões, Frei Antônio, do convento da Boa Vista de Recife, espalhou o boato de que Polinardo se chamava José Luis Pestana de Vasconcelos e que já era casado, em Pernambuco. Investigado o caso, pelo Comissário do Santo Oficio, sediado em Recife, e constatado ser o boato verdadeiro, Polinardo Caetano César de Ataíde que, realmente se chamava José Luis Pestana de Vasconcelos, foi preso e mandado para Lisboa, onde foi condenado pelo Tribunal do Santo Ofício, a seis (06) anos de degredo, na Angola, e a pagar 11.502 réis, referentes as causas de processo.
Anulado o casamento com Polinardo, Isabel Pinto contraiu novo casamento com Gregório José Torres de Vasconcelos, pernambucano, filho do Capitão Eugênio Gomes Torres e de Isabel Quitéria Pessoa, no dia 12 de junho de 1783. Desse segundo matrimônio, nasceu um único filho, Gregório Francisco Torres de Vasconcelos que, por muitos anos, foi advogado e professor de latim em Sobral, no Ceará.
No tocante aos filhos do primeiro matrimônio, Geracina Isabel casou-se com o potiguar, capitão de milícia Tomaz d’Aquino de Sousa, com quem teve três filhos: Tomaz Pompeu de Souza Brasil (Senador Pompeu), Antônio Pompeu de Sousa Catunda e Maria Joaquina Pompeu Magalhães.
Tomaz Pompeu é o Senador Pompeu e, de sua união com Filismina Carolina Figueira, originou-se a ilustre família Pompeu de Sousa Brasil.
Tomaz Pompeu fez seus estudos primários, em Santa Quitéria-Ce, tendo como professor o seu pai, capitão Tomaz d’Aquino de Sousa, homem de reconhecida cultura, pois cursava o seminário de Olinda, até o 1º ano de Teologia e que, após deixar a batina, veio residir nas ribeiras do Acaraú-Ce.
Terminando os primeiros estudos, diante de sua rara inteligência e de sua grande aplicação nos estudos, seus pais, imaginando seu brilhante futuro, o destinaram para a carreira eclesiástica, escolhendo para ser o padre da família, sonho acalentado pelos pais, naquela época. E em fevereiro de 1834, Tomaz Pompeu matriculou-se na Aula Régia de Latim de Sobral, dirigida por seu tio materno Gregório Francisco Torres de Vasconcelos, onde estudou até o fim de 1835.
Em 1836, matriculou-se no seminário de Olinda, onde estudou até ser ordenado Presbítero, no Palácio da Solenidade, pelo senhor Bispo D. João da Purificação Marques Perdigão, no dia 18 de setembro de 1841.
No seminário, cursou latim, filosofia, aritmética, e geometria plana, francês, geografia, cronologia, historia, retórica, inglês, historia sagrada, nas quais prestou exames e, em todas, foi aprovado plenamente. Em 1839, matriculou-se no curso particular de Teologia do reverendo, Dom Joaquim Francisco de Faria.
A cada dia que passava, Tomaz Pompeu demonstrava o seu valor.
Em 15 de março de 1839, quando ainda era seminarista, matriculou-se no Curso Jurídico de Olinda, onde estudou, até receber o grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 24 de outubro de 1843, com aprovação plena em todas as matérias do currículo. Aos vinte e cinco de idade, possuidor de um cabedal enorme de conhecimentos teológicos e jurídicos, o jovem quiteriense via descortinar-se em sua frente um futuro promissor.

Ordenado padre e bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais, portador de uma inteligência superior, homem de grande cultura humanística e religiosa, em 16 de novembro de 1841, submeteu-se a concurso para a cadeira de professor substituto de teologia do Seminário de Olinda, sendo aprovado com nota distinta, sendo empossado, na cadeira, no dia 21 do mesmo mês e ano. No ano seguinte, a 18 de maio, ainda cursava a Academia de Ciências Jurídicas e Sociais e já ensinava no Seminário de Olinda, foi provido ao cargo de Diretor do Liceu do Ceará e nas cadeiras de Geografia e Historia, o que fez voltar para a sua terra, com muito pouca vontade de parte, mas para anuir aos desejos de sua família, que o queria na Província do Ceará.
Como professor do Liceu do Ceará, se sobressaia dos demais, tanto por seu extraordinário saber, como por seu pioneirismo, iniciando em sua terra natal os estudos de estatística, matéria da qual, até então, sequer o Governo havia ocupado.
Tomaz Pompeu dedicou-se, de um modo todo especial, aos estudos da geografia e, como professor da matéria, tornou-se membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil.
Jovem e culto, Tomaz Pompeu percebeu que era padre, por escolha da família, e bacharel por vocação. As cerimônias do magistério, os debates do foro o atraiam mais do que as cerimônias eclesiásticas. Seu pedestal haveria de ser jurisprudência, a política, com seus membros, e não tribunais das almas, com suas cadeiras e seus púlpitos.
A disciplina da Igreja e sua autoridade o faziam sentir-se prisioneiro, impedido de exercitar-se, livremente, e de multiplicar-se, através de sua família. Sem abjurar a fé, quebrou os elos que o prendiam a alguns votos, principalmente, o da pureza, e passou a exercitar-se como cidadão livre, no jornalismo e na política. Amigo e correligionário do Senador Francisco de Paula Pessoa, Tomaz Pompeu resolveu procurá-lo para lhe dizer da necessidade que o Partido Liberal tinha de um jornal e do desejo de fundar, dirigir e editoriar este órgão da imprensa.
O senador Paula Pessoa, homem riquíssimo, e ligado a Tomaz Pompeu, por laços de afinidade (a esposa do primeiro era prima, em terceiro grau, do segundo), o presenteou com 100 contos de réis para que comprasse as máquinas, necessárias à instalação e impressão do jornal. Com tal ajuda, Tomaz Pompeu fundou o jornal “O CEARENSE”, em 16 de outubro de 1846. O Partido Liberal, no 2º Império, tinha um programa, bem avançado para a época.
Os liberais pregavam o trabalho livre, com a abolição da escravatura. Lutavam pela temporalidade do senado, então vitalício. Pugnavam pela autonomia das províncias, que viviam sob o domínio da centralização do sistema monárquico, transformando-as e estados Federativos, cada um com sua constituição, e pela eleição de seus governadores, até então, nomeados pelo Imperador. Homem polêmico e dinâmico, vendo o Ceará enfrentando problemas com a seca de 1877, quando o poder era ocupado pelo Partido Conservador, presidido pelo Barão de Cotegipe, que limitava e retardava a remessa de recursos, conclamou em artigo, publicado em O CEARENSE: “Libertem-se de um jugo ditatorial que nos mata. esqueçam-se do centro, proclamem-se a sua liberdade e autonomia... percam a fé em instituições fictícias”. Esse foi seu ultimo artigo, pois faleceu um pouco depois.
Em 1842, com a morte do Reverendo Costa Barros, que era o titular da cadeira de Deputado Geral, Tomaz Pompeu, que fora eleito 1º suplente, assumiu a cadeira, tornando parte nos trabalhos da legislatura, quando conseguiu sufrágios suficientes para ser Deputado Provincial. Em 1847, foi eleito Deputado Geral, tendo assumido, em 1848, ficando no cargo até 1849, com a dissolução da Câmera. Em 1856, foi novamente eleito Deputado Geral, pelo 4º distrito, mas não chegou a tomar posse, porque a Câmera dos Deputados anulou o seu diploma, e reconheceu como deputado eleito, para a 10º legislatura, o Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe, que pertencia ao quadro do Partido Conservador.
Nas eleições de 1863, foi formada a seguinte lista tríplice para a nomeação de senador: Jerônimo Martiniano Figueira de mato, Tomaz Pompeu de Souza Brasil e Domingos José Nogueira Jaguaribe e, no ano seguinte, Tomaz Pompeu foi nomeado Senador do Império, pelo imperador D. Pedro II. Nomeado Senador, cargo vitalício, foi aposentado como professor de geografia e história do Liceu do Ceará, em janeiro de 1865. Ficou no Senado até a sua morte, ocorrida no dia 02 de setembro de 1877.
Em vida, Tomaz Pompeu foi baluarte, lutando pelo progresso do Ceará. Foi um dos Fundadores do Liceu do Ceará, do qual foi diretor e professor. Não mediu esforços, na luta pela criação, no Ceará, de um Tribunal de desembargo, hoje Tribunal de Justiça, do qual foi o primeiro secretário. Organizou a Companhia Cearense Via Férrea de Baturité, da qual, ele, o Barão de Aquiraz, o Barão de Ibiapaba, José Pompeu de Araújo Cavalcante e Henrique Brockehuest eram os maiores acionistas.
Senador Pompeu foi um estadista, industrioso, paciente, inteligente, tenaz, severo, sóbrio, orador fluente e consumado, conselheiro, austero, nobre, simpático, ilustrado, assíduo, abnegado, homem de olhar arguto, enfim, um senador contumaz e convincente.

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